quinta-feira, 16 de abril de 2015

sub áreas da Sociologia

sub áreas da Sociologia

A primeira estuda a produção do conhecimento e a segunda como ela está sendo passada e entendida pelas pessoas, respectivamente. Seguindo a mesma linha de raciocínio, a Sociologia da Ciência percebe a influência dos fatores externos na evolução da ciência e sua disseminação. Este é um campo muito importante de estudo, tanto para os profissionais do ramo, quanto para os leigos, pelo fato estimular o pensamento em tudo o que rodeia o ser humano e na capacidade de persuasão de algumas pessoas e produtos que estão em jogo. Bem como a Sociologia das Histórias em Quadrinhos, que auxilia no entendimento dos efeitos causados pelos mesmos e, também, os valores culturais que cada um carrega consigo.
Já no lado interior, contamos com a Sociologia da Emoção, para tornar possível compreender o comportamento e as reações que apresentamos (em grande maioria das vezes inesperadas) diante de situações agradáveis ou não, das nossas vidas. Talvez este seja um dos ramos mais complexos e discutidos no meio de tantos outros. Também vinculado aos sentimentos, a fim de estudar a identidade sexual e o que leva o indivíduo a fazer sua escolha sexual, existe a Sociologia das Relações de Gênero.
Também existem algumas áreas da Sociologia que tratam de assuntos ainda mais específicos, em geral, direcionados para autônomos, como a Sociologia Política, a Sociologia Jurídica e aSociologia Médica. Elas auxiliam na prática da profissão eficiente e competente, levando o profissional a sua realização pessoal, sem deixar que o mesmo apresente réstias de insatisfação.
Também não se pode esquecer da Sociologia da Linguagem, que discute as diferentes formas de se comunicar, suas tradições e história. Assim como a Sociologia da Arte, com a tarefa de descobrircomo ocorre a inspiração para que um artista realize uma obra, por exemplo. Estuda sua época e padrões, bem como a Sociologia do Esporte e a Sociologia da Religião, que entendem primeiramente seu contexto e a razão pela qual escolhemos praticar determinadas coisas e acreditar em outras.
Por fim, para compreender melhor as diferenças de vida da população residente nas cidades, com a que vive afastada de centros urbanos, surgem a Sociologia Rural e a Sociologia Urbana, que analisa ocomportamento adotado por pessoas de realidades completamente diferentes, apontando um distanciamento gritante no pensamento de uma e na de outra. Dentro disso, a Sociologia da Violência eCriminalidade vem contribuir com a análise da sociedade e das atitudes de quem a representa. Por fim, fazendo relação com os assuntos, os comportamentos racionais e os interesses pessoais, são discutidos pela Sociologia Econômica e a Sociologia Funcionalista, nascida da necessidade de discussão da economia clássica e neoclássica, na visão utilitária dos objetos em questão.

VC SABE O QUE É DEMOCRACIA?

Democracia

Conceito de democracia, origem da palavra, democracia grega, democracia brasileira, participativa, política, importância do voto, eleições diretas, cidadania, obrigatoriedade do voto no sistema democrático


  
A palavra democracia tem sua origem na Grécia Antiga (demo=povo e kracia=governo). Este sistema de governo foi desenvolvido em Atenas (uma das principais cidades da Grécia Antiga). Embora tenha sido o berço da democracia, nem todos podiam participar nesta cidade. Mulheres, estrangeiros, escravos e crianças não participavam das decisões políticas da cidade. Portanto, esta forma antiga de democracia era bem limitada.

Atualmente a democracia é exercida, na maioria dos países, de forma mais participativa. É uma forma de governo do povo e para o povo.  

Formas 

Existem várias formas de democracia na atualidade, porém as mais comuns são: direta e indireta. 

Na democracia direta, o povo, através de plebiscito, referendo ou outras formas de consultas populares, pode decidir diretamente sobre assuntos políticos ou administrativos de sua cidade, estado ou país. Não existem intermediários (deputados, senadores, vereadores). Esta forma não é muito comum na atualidade.
Na democracia indireta, o povo também participa, porém através do voto, elegendo seus representantes (deputados, senadores, vereadores) que tomam decisões em novo daqueles que os elegeram. Esta forma também é conhecida como democracia representativa. 

Democracia no Brasil 

Nosso país segue o sistema de democracia representativa. Existe a obrigatoriedade do voto, diferente do que ocorre em países como os Estados Unidos, onde o voto é facultativo (vota quem quer). Porém, no Brasil o voto é obrigatório para os cidadãos que estão na faixa etária entre 18 e 65 anos. Com 16 ou 17 anos, o jovem já pode votar, porém nesta faixa etária o voto é facultativo, assim como para os idosos que possuem mais de 65 anos.

No Brasil elegemos nossos representantes e governantes. É o povo quem escolhe os integrantes do poder legislativo (aqueles que fazem as leis e votam nelas – deputados, senadores e vereadores) e do executivo (administram e governam – prefeitos, governadores e presidente da república).  

sábado, 25 de maio de 2013

UM POUCO DE ANTROPOLOGIA: MARCELO MAUSS E MARGARETH MEAD


Margareth Mead
Margaret Mead revolucionou a antropologia ao torná-la popular e ao alcance dos leigos. Seu objetivo era dar às pessoas comuns uma ferramenta para entender seu lugar no mundo. Ela demonstrou que os papéis sexuais eram determinados pelas expectativas sociais e provou a importância das relações raciais para a conservação da espécie. Mas seus estudos inovadores, registrados em livros como Coming of Age in Samoa (1928), sempre criaram polêmica. Segundo os críticos, os dados das pesquisas da antropóloga eram seletivos e suas conclusões simplistas. A cientista foi considerada uma aventureira sexual pelos conservadores. Sem se preocupar com os ataques, ela acreditava que o objetivo da antropologia era melhorar a raça humana. Para isso, defendia que o mundo moderno tinha muito o que aprender com outras civilizações. Em inúmeros livros e artigos, escreveu sobre os direitos da mulher e contra o racismo e o preconceito sexual.

 A antropóloga norte-americana Margareth Mead, analizando a relação entre cultura e educação, distingue três tipos de cultura: a pós-figurativa, a co-figurativa e a pré-figurativa. A primeira designa o tipo de sociedade e de cultura em que as crianças aprendem dos mais idosos, isto é, dos que pertencem a pelo menos duas gerações anteriores. Não há questionamento e o acervo cultural é tido como definitivo. Na segunda, prepondera como modo de aprendizado de crianças e jovens o comportamento dos seus próprios pares. É o caso de filhos de imigrantes, que se orientam menos pelos pais estrangeiros que pelos seus colegas do país ou região para onde emigraram. Na terceira, são os adultos que aprendem com os jovens. 2. Nas sociedades contemporâneas desenvolvidas co-existem os três tipos, mas há uma forte tendência de crescente importância da cultura pré-figurativa. As mudanças constantes da tecnologia e da ciência permitem que gerações mais jovens passem a ter um repositório maior e mais atualizado que as gerações mais antigas. Estas tendem, então, a cuidar mais de ensinar como aprender e não o que aprender. (cf. Duarte, S.Guerra. DBE. 1986)."  
Margareth Mead uma antropóloga americana, afirmou que a Cultura é uma lente através da qual o homem enxerga a realidade. Com isto ela quiz dizer que há uma multiplicidade de formas de ver o mundo, dependendo da maneira como se foi ensinado a vê-lo e que isto não depende da cor da pele de uma pessoa, do lugar onde ela nasceu ou do clima onde vive
Marcelo Mauss
Marcel Mauss (Epinal 10 de Maio de 1872 - Paris 10 de Fevereiro de 1950) foi umsociólogo e antropólogo nascido quatorze anos mais tarde e na mesma cidade que Émile Durkheim, de quem é sobrinho. Trabalhou a vida toda para distinguir uma ciênciapropriamente social.
Ciência distinta, por exemplo, da psicologia cujos objetos são, segundo Mauss, as representações individuais, enquanto que na ciência social os objetos são as representações coletivas de caráter autônomo e inconsciente ao próprio indivíduo que as tem em sua consciência.

Primeiro livro de Mauss (1872-1950), o volume alargou o prestígio que o intelectual tinha nos círculos universitários franceses e o consagrou como um dos fundadores da antropologia moderna.

Com temas tão distintos como a função da magia nas sociedades ditas "primitivas" ou o modo como nelas se lidava com o corpo (desde as diferentes maneiras de andar até as posições sexuais), os ensaios de "Sociologia e Antropologia" ilustram a amplitude do pensamento "maussiano".

Essa elasticidade ficará visível no ciclo "Leituras de Mauss", que a editora Cosac & Naify, responsável pela publicação, realiza na USP em parceria com o departamento de antropologia e o programa de pós-graduação de antropologia social da universidade.

O primeiro dia do evento, amanhã, será dos professores de antropologia. Beatriz Perrone-Moisés, da USP, abre os trabalhos falando sobre "a noção de pessoa".

"A grande lição desse texto", opina a professora, "é a idéia de que cada cultura tem uma noção própria do que é o ser humano". "A noção de indivíduo, que costumamos considerar como universal, é recente e restrita ao ocidente", completa a tradutora de Lévi-Strauss (que assina a introdução de "Sociologia e Antropologia").

O texto mais conhecido de Mauss, "Ensaio sobre a Dádiva", será o tema de João Dal Poz, professor da Universidade Federal de Mato Grosso. Segundo a professora da USP Fernanda Peixoto, que organizou o evento com a antropóloga Florencia Ferrari (coordenadora editorial do livro), o etnólogo falará sobre leituras contemporâneas do texto, no qual "Mauss define as sociedades não ocidentais como fundamentadas na idéia de troca".

Em "Ensaio sobre a Dádiva", de 1924, que foi considerado um dos dez textos mais importantes da não-ficção no século 20 por júri do caderno Mais! em 11/4/1999, Maussdescreve a obrigatoriedade de dar e retribuir presentes em sociedades "primitivas" (o que pode ser alargado para todas as sociedades) como "fato social total".

Com esse segundo conceito, derivado das idéias de seu tio, Émile Durkheim (que faz parte do tripé elementar da sociologia, com Marx e Max Weber), Mauss pretende mostrar como nas trocas (dar, receber e retribuir) exprimem-se as instituições religiosas, jurídicas, morais, econômicas.

A terceira componente da mesa em "Leituras de Mauss" deixa um pouco esse universo de lado para concentrar-se no percurso mais pessoal do pensador. Léa Freitas Perez, professora da Universidade Federal de Minas Gerais, que está traduzindo biografia de Maussfeita por Michel Fournier, vai falar sobre seu papel como mestre de nomes tão variados como Lévi-Strauss, Michel Leiris e George Bataille, entre outros.

Bataille, ensaísta e romancista, e sua relação com Mauss serão tema ainda de palestra do segundo dia do evento, em intervenção da professora de literatura da PUC-SP Eliane Robert Moraes.

Outros dois "estranhos no ninho" antropológico completam a mesa: Heloisa Pontes, da Unicamp, que vai discutir os ensaios de Mauss sobre o corpo, e o artista Arthur Omar ("tudo o que faço é também uma certa antropologia", diz o autor do livro "Antropologia da Face Gloriosa").
O potlatch é uma cerimônia praticada entre tribos índigenas da América do Norte, como os Haida, os Tlingit, os Salish e os Kwakiutl. Também há um ritual semelhante na Melanésia.
Consiste num festejo religioso de homenagem, geralmente envolvendo um banquete de carne defoca ou salmão, seguido por uma renúncia a todos os bens materiais acumulados pelo homenageado – bens que devem ser entregues a parentes e amigos. A própria palavra potlatchsignifica dar, caracterizando o ritual como de oferta de bens e de redistribuição da riqueza. A expectativa do homenageado é receber presentes também daqueles para os quais deu seus bens, quando for a hora do potlatch destes.
O valor e a qualidade dos bens dados como presente são um sinal do prestígio do homenageado. Originalmente o potlatch acontecia somente em certas ocasiões da vida dos indígenas, como o nascimento de um filho; mas com a interferência dos negociantes europeus, os potlaches passaram a ser mais frequentes (pois haviam bens comprados para serem presenteados) e em algumas tribos surgiu uma verdadeira guerra de forças baseada no potlatch. Em alguns casos, os bens eram simplesmente destruídos após a cerimônia.
Os governos canadense e estadunidense proibiram o potlach em fins do século XIX, por considerar o ritual uma perda "irracional" de recursos. Com a compreensão do significado do potlatch, a proibição desapareceu em 1934 nos EUA e em 1954 no Canadá. Algumas tribos praticam a cerimônia ainda hoje, e os presentes incluem dinheiro, taças, copos, mantas, etc

Um pouco de antropologia: Radcliffe-Brown


Radcliffe-Brown

Esta importação inadequada da explicação tem ocorrido no uso da analogia biológica, que está relacionada a dois conceitos centrais do funcionalismo: "sempre que encontramos os termos "estrutura" e "função" na sociologia, podemos estar certos de que o autor tem em mente alguma concepção da sociedade como um organismo" (REX, 1973, p.79).
Para um dos maiores autores funcionalista, Radcliffe-Brown, "a estrutura social só é capaz de ser observada "em funcionamento"... a estrutura deve ser definida em termos de atividades e do efeito destas sobre as unidades... mas ele não diz que essas atividades têm o efeito de manter um padrão de relações sociais ou uma estrutura social. Diz que elas tem essa "função"" (REX, 1973, p.82-3-4-).
Mas o têrmo "função" não tem apenas o significado de efeito, ele também traduz uma compreensão teleológica. Embora na estrutura biológica a "função" no sentido de efeito se confunda com a "função" no sentido de propósito, isto não é verdade para a estrutura social.
Malinowski e Radcliffe-Brown, dois importantes expoentes da Antropologia Social Britânica, tinham muitas similitudes mas também muitas divergências em seu pensamento. Enquanto Malinowski enfatizava a cultura, Radcliffe-Brown tinha como preocupação fundamental o social.
Segundo Radcliffe-Brown a manutenção da estrutura social era o ponto de convergência, o sentido e função das diferentes instituições, pequenas engrenagens que permitiram o perfeito funcionamento do todo. A estrutura social não para ele uma abstração, mas a soma total das relações sociais de todos os indivíduos em um momento dado do tempo, sendo possível observá-la como uma realidade. A continuidade estrutural, assim, seria mantida através do jogo de relações de suas unidades componentes. Todos os costumes e crenças de uma sociedade desempenhariam um papel determinado na vida social da comunidade, tal qual os órgãos do corpo vivo desempenham alguma função na vida geral do organismo.
A família e as relações nela contidas teriam assim, para Radcliffe-Brown, esse caráter funcional, só existindo em direção ao fim de permitir a continuidade da estrutura social. Sua função, assim, é a evitação do conflito, permitindo o ajustamento mútuo dos interesses dos membros da sociedade. Esse ajustamento, entretanto, exige um regulamento dos comportamentos: é onde a cultura intervém, sendo criada para manutenção e funcionamento da estrutura e da forma social
Radcliffe-Brown, Alfred Reginald 1881-1955
Antropólogo britânico. Estuda em Cambridge, aluno de W. H. R. Rivers. Faz um trabalho de campo nas Ilhas Andaman (1906-1908) e na Austrália Ocidental (1910-1912). Preceptor do rei de Tonga em 1916. Professor de antropologia social na Cidade do Cabo (1920-1925), Sydney (1925-1931), Chicago (1931-1937), Oxford (1937-1946) e São Paulo, aqui em 1942-1944. Influenciado por Durkheim, está na origem do estrutural-funcionalismo structural-functional analysis). Define a função como o papel desempenhado por qualquer actividade na vida social total e, por conseguinte, na contribuição que dá a manutenção da permanência estrutural, da perenização das estruturas empiricamente verificáveis. A função surge como a contribuição dada por um determinado elemento para a manutenção da estrutura; o sistema é entendido como mera unidade funcional; e a estrutura, concebida como um simples acordo entre pessoas que têm entre si relações institucionalmente controladas e definidas. E da soma da ideia de sistema com a ideia de estrutura é que resulta a ideia de processo da vida social que, em si mesmo, consiste num imenso número de acções e interacções de seres humanos agindo como indivíduos ou em combinações ou grupos (... ) Os componentes ou unidades da estrutura social são pessoas, e uma pessoa é um ser humano, considerado não como um organismo, mas ocupando uma posição na strutura social.
Funcional estruturalismo
 a teoria que utiliza o funcionalismo como mero paradigma formal que se propõe encarar os objectos sociais a partir das relações de contribuição que os ligam entre si e elaborar, nesta base, um certo número de propostas explicativas que não são vistas como necessárias nem exaustivas.
Já para A. R. Radcliffe-Brown, a função surge como o papel desempenhado na vida social total, a contribuição dada por um determinado elemento para a manutenção da estrutura. O sistema é entendido como mera unidade funcional e a estrutura, concebida como um simples acordo entre pessoas que têm entre si relações institucionalmente controladas e definidas [1][11]. E da soma da ideia de sistema com a ideia de estrutura é que resulta a ideia de processo da vida social que, em si mesmo, consiste num imenso número de acções e interacções de seres humanos agindo como indivíduos ou em combinações ou grupos (...) Os componentes ou unidades da estrutura social são pessoas, e uma pessoa é um ser humano, considerado não como um organismo, mas ocupando uma posição na estrutura social [2][12].

A Física Quântica seria necessária para explicar a Consciência? Osvaldo Pessoa Jr.


Esta palestra foi ministrada no encontro Questões Metodológicas  em Ciências Cognitivas realizado no Insttituo de Estudos Avançados da USP em 1994, a convite de Henrique del Nero, tendo sido publicada na Coleção Doucmentos - Série Ciência Cognitiva - 20, pp. 184-9.

 
 
1.Introdução
 
 
Seria a consciência um fenômeno quântico? Por mais forçada que tal especulação possa parecer, ela tem sido seriamente considerada por vários pesquisadores nos últimos cinco anos.A motivação para essa abordagem, grosso modo, é que como a consciência é uma coisa misteriosa, e os fenômenos quânticos também o são, então esses dois mistérios poderiam estar ligados. O presente trabalho, ainda em fase preliminar, é um estudo dos diferentes argumentos utilizados para defender tal ligação, e das diferentes linhas de pesquisa em neurociência que fazem uso de considerações da física quântica.Veremos que a questão de se a consciência é um fenômeno quântico é basicamente uma questão empírica, ainda em aberto, mas que uma formulação precisa desta questão requer esclarecimentos filosóficos relativos às definições de "consciência" e de "fenômeno quântico".
2.A quem interessa tal Tese? 
Vamos nos colocar dentro do contexto do materialismo, e supor que estados e processos conscientes são idênticos a certos estados e processos fisiológicos.Neste contexto, existe um debate em psicologia que gira em torno do funciona­lismo ("strong AI"), que defende que a mente depende apenas daestrutura dos processos cerebrais, e não de sua realização física. Assim, em princípio, um computador poderia ter consciência, ou mesmo uma sociedade poderia ter uma consciência própria, desde que os elementos destes sistemas satisfizessem certas propriedades estruturais, ainda não conhecidas pela ciência. A mente seria como um programa de computador.
A tese de que o problema mente-corpo só poderá ser esclarecido quando for levado em conta a natureza quântica do cérebro tem sido usada como um argumentoanti-funcionalista. Esta posição defende que existe algo nos detalhes dos processos fisiológicos da mente que é essencial para a consciência. Talvez esse "algo" seja um processo quântico! Se isto for verdade, então computadores feitos com chips convencionais e sociedades humanas não poderão ter consciência.
3. O que é a Consciência?
Boa pergunta!Não sei bem! Espero aprender nesta conferência!
Mas tem algo a ver com eu (ou você) estar aqui agora, tendo acesso a impressões sensoriais que possuem uma qualidade fenomênica (os "qualia", a qualidade branca neste branco, etc.), tendo acesso a memórias que são sempre relativas às experiências minhas, tendo desejos e pensamentos que parecem ter sempre uma intencionalidade, tendo uma noção de unidade de minha consciência, tendo uma noção de tempo e um terrível pavor ao representar adequadamente a minha morte.
4. O que é um Fenômeno Quântico? 
Um ponto filosofico crucial a ser esclarecido se refere ao significado da expressão "fenômeno quântico", em oposição a um fenômeno "clássico". A física quântica é a teoria científica que descreve os objetos microscópicos, como átomos, e sua interação com a radiação (luz, etc.). Como ela é uma teoria muito bem sucedida, pode-se dizer que qualquer fenômeno microscópico é um fenômeno quântico. Assim, como nosso cérebro é constituído de entidades microscópicas, num sentido trivial nosso cérebro é quântico, assim como nossa consciência (supondo o materialismo).
Mas não é essa a nossa pergunta. Queremos saber se a física quântica é necessária para explicar a consciência, ou seja, se a física clássica é incapaz de explicá-la.Mas afinal, o que é a teoria quântica? Em poucas palavras, podemos dizer que o que a física quântica tem de essencial é que ela é uma teoria que atribui propriedades ondulatórias para partículas individuais. Na década de 1920, comprovou-se que toda radiação é absorvida em quantidades discretas de energia ou massa, chamados de "quanta", e que todas as partículas ou quanta podem exibir propriedades ondulatórias, como interferência, difração, etc. Esta constatação é uma versão fraca do princípio da "dualidade onda-partícula".
A física clássica incluia a mecânica de partículas e a mecânica ondula­tória, mas cada qual tinha um domínio de aplicação exclusivo. Partículas seguiam trajetórias bem definidas e não se dividiam em espelhos semi-refletores. Ondas se espalhavam pelo espaço, se dividiam, interferiam consigo mesmas, eram limitadas pelo princípio de incerteza (por exemplo, um pulso de luz emitido em um intervalo de tempo curto não podia ter uma freqüência bem definida), sofriam tunela­mento, e exibiam flutuações em sua intensidade. A física quântica é justamente a teoria que atribui todas essas propriedades ondulatórias a partículas individuais.
Considere agora um determinado tipo de objeto, como um elétron, e o conjunto de suas manifestações (ou seja, os diferentes tipos de experimentos que podem ser feitas com esse elétron). Em geral, a cada um destes experimentos pode-se atribuir ou uma descrição corpuscular, ou uma ondulatória (esta é uma versão forte da dualidade onda-partícula, conhecida como complementaridade, mas que parece ter exceções). Se este conjunto de manifestações do objeto contiver os dois tipos de comportamento (onda e partícula), então somos forçados a dizer que só a física quântica é capaz de descrever o objeto.Caso isso não aconteça (ou seja, todas as manifestações são de apenas um tipo), dizemos que o objeto se comporta classicamente.
Considere a absorção de luz pela retina. A física quântica é necessária para descrever este processo?Bem, sabe-se que certos animais são sensíveis a apenas um fóton, e assim este processo é corpuscular.No entanto, acredita-se que nenhuma das propriedades ondulatórias da luz são relevantes para o processo de absorção em si. As propriedades ondulatórias afetam a distribuição espacial dos fótons, mas a absorção em cada célula da retina independe do que está acontecendo em outras células (ou estarei enganado?).Assim, a física clássica seria suficiente para explicar a absorção de luz pela retina.
Existiria algum processo em nosso cérebro, essencial para a nossa consciência, que só pode ser explicado pela física quântica?
5.O Papel da Consciência na Física Quântica 
A ligação entre consciência e física quântica foi estabelecida na década de 1930, mas em um sentido diferente do que estamos examinando aqui.Para expli­car como que uma frente de onda espalhada podia ser detectada em uma chapa foto­gráfica como uma trajetória quase linear, elaborou-se a noção de um colapso do pacote de onda que seria causado pela ato da observação (Heisenberg, 1927).Ora, qual é a essência de tal ato?Para alguns físicos importantes da época, era a presença de uma ser consciente.A consciência humana seria causadora de uma transição quântica! Após a Guerra, o consenso passou a ser que uma observação se caracterizaria pela presença de um aparelho macroscópico de medição, elimi­nando assim o papel legislador da consciência (ver PESSOA, 1992). Ainda hoje, porém, alguns físicos e filósofos respeitáveis aderem à tese subjetivista.
6. O Papel da Física Quântica na Consciência 
 
 
A tese que pretendemos examinar com maior cuidado não é o papel da consciência na teoria quântica, mas o papel da teoria quântica nas teorias materialistas da consciência. Apresentarei aqui os principais argumentos em favor da tese de que a física quântica é essencial para a consciência.
a) O cérebro seria um "computador quântico". Este conceito foi bastante trabalhado pelo físico David Deutsch (ver  DEUTSCH, 1992), que mostrou que tal computador seria mais eficiente do que um computador digital.Por seleção natural, essa vantagem computacional poderia ter favorecido um cérebro que fosse um computador quântico ( LOCKWOOD, 1989, pp. 251-2). O problema com este argumento é que o cérebro é muito quente para que tal computação quântica pudesse ocorrer.
b) O cérebro computaria funções não-recursivas. Computadores clássicos e quânticos só podem computar funções recursivas, mas o pensamento humano (por exemplo, a intuição matemática) extrapolaria esta limitação. Uma solução inovadora ao problema do colapso na mecânica quântica talvez solucionasse também esse problema da consciência (PENROSE, 1989, pp. 403-4). O problema aqui é que não se mostrou rigorosa­mente que o pensamento humano é capaz de computar funções não-recursivas.
c) Um fenômeno quântico semelhante à "condensação de Bose" poderia ocorrer no cérebro ( MARSHALL, 1989).Este fenômeno é observado a baixas temperaturas, quando um grande número de partículas se comporta identicamente. FRÖHLICH (1968) propôs um modelo biológico deste fenômeno de "coerência" à temperatura ambiente, envolvendo moléculas dipolares.Alguns pesquisadores afirmam ter encontrado evidência de que tal fenômeno ocorreria no cérebro (ver HAMEROFF et al., 1993, p. 340). Preciso estudar esta questão um pouco mais a fundo para poder avaliar sua plausabilidade.
 
 
d) O cérebro seria regido por leis análogas às da mecânica quântica. Existe uma abordagem em neurociência que supõe que a convencional dinâmica do neurônio e da sinapse não é fundamental, e que as funções cerebrais podem ser descritas por um "campo dendrítico" que obedeceria a equações da teoria quântica de campos (STUART et al., 1979; JIBU & YASUE, 1991).Esta abordagem matemática foi inspirada na proposta de Karl Pribram, nos anos 60, de um modelo "holonômico" para o cérebro (ver  PRIBRAM, 1991).Conforme notado por WERBOS (1993, pp. 301-3), o fato de leis análogas às da mecânica quântica descreverem funções cerebrais não implica que tais funções constituam um fenômeno quântico. Além disso, em tais modelos não se introduzem medições que causam colapsos, o que sugere que a descrição destes autores é meramente ondulatória.
e) A liberação de neurotransmissores é um processo probabilístico, que seria descrito apenas pela física quântica. Tal liberação, chamada de "exocitose", ocorreria com uma probabilidade relativamente baixa (de cada 5 impulsos nervosos chegando à vesícula sináptica de células piramidais do neocórtex, apenas 1 liberaria o neurotransmissor).De acordo com John Eccles, a mente (que em sua visão dualista existe independentemente do cérebro) pode alterar levemente essas probabilidades de exocitose, o que constituiria um mecanismo para a ação da mente sobre o cérebro.Rejeitamos aqui, por motivos filosóficos, esse dualismo de Eccles. Agora, se ele estiver correto e a exocitose puder ser descrita pela teoria quântica (BECK & ECCLES , 1992), faltaria mostrar que a mecânica quântica énecessária para decrever este fenômeno, conforme explicado na seção 4, e de que forma este fenômeno está ligado com a emergência da consciência.
f) A nível subneuronal ocorreria processamento de informação. Nos anos 70 descobriu-se que as células possuem uma delicada estrutura formada por "micro­túbulos" de proteína, formando um "citoesqueleto". HAMEROFF et al. (1993, p. 330) citam alguma evidência experimental de que o citoesqueleto tem de fato uma função cognitiva, ligada à memória. Como tais microtúbulos são cilindros com diâmetro de apenas 25 nanometros (10-9 m), é provável que eles só possam ser adequadamente descritos pela física quântica. Resta saber se de fato o cito­esqueleto tem uma função cognitiva, além de sua função estrutural e de trans­porte. Em um recente relato irônico a respeito deste programa de pesquisa (HORGAN, 1994, p. 77), anuncia-se que Penrose aderiu a ele.
7) A mecânica quântica explicaria fenômenos de percepção extrasensorial.Alguns autores partem do princípio de que a consciência pode exercer influência direta sobre processos naturais, e procuram mostrar como um modelo quântico da consciência daria conta deste e de outros tipos de fenômenos (JAHN & DUNNE, 1986). Marshall (citado por HORGAN , 1994, p. 78) defende que a performance mental de seres humanos é alterada quando um eletroencefalograma é feito, já que este aparelho de medição estaria provocando colapsos no cérebro. Não creio que tais propostas devam ser levadas a sério em nossa discussão.
8. Conclusão 
Não existe evidência concreta, ainda, de que a física quântica seja necessária para explicar a consciência. O modelo de Fröhlich e a hipótese de que os microtúbulos tenham uma função cognitiva são bastante interessantes, e merecem ser investigados mais a fundo. Mas quanto às declarações de que tais hipóteses foram confirmadas, conhecemos bem a dinâmica da ciência para não nos deixarmos levar facilmente por tais promessas. Este é um campo em que os pré-julgamentos filosóficos possuem bastante peso.E mesmo que tais hipóteses se confirmem, permaneceria a questão de se a consciência, a ser caracterizada de maneira precisa, faria uso de maneira essencial das características quânticas dos processos cerebrais. Como saldo positivo, espero ter definido de maneira adequada um critério para caracterizar um fenômeno quântico (seção 4), que preciso ainda estender de maneira precisa para a condensação de Bose.
 
 
Bibliografia
BECK, F. & ECCLES, J.C. (1992): "Quantum Aspects of Brain Activity and the Role  of Consciousness", Proceedings of the National Academy of Sciences U.S.A. 89, 11357-61.
DEUTSCH, D. (1992): "Quantum Computation", Physics World 5(6), 57-61.
FRÖHLICH, H. (1968): "Long-Range Coherence and Energy Storage in Biological  Systems", International
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HAMEROFF, S. et al. (1993): "Nanoneurology and the Cytoskeleton: Quantum Signaling and Protein Conformational Dynamics as Cognitive Substructure", in Pribram (1993), pp. 317-376.
HORGAN, J. (1994): "Can Science Explain Consciousness?", Scientific American , julho, 72-78.
JAHN, R.G. & DUNNE, B.J. (1986): "On the Quantum Mechanics of Consciousness, with  Application to Anomalous Phenomena", Foundations of Physics 16, 721-772.
JIBU, M. & YASUE, K. (1993): "The Basics of Quantum Brain Dynamics", in  PRIBRAM(1993), pp. 121-145.
LOCKWOOD, M. (1989): Mind, Brain, and the Quantum - The Compound "I", Blackwell,  Oxford.
MARSHALL, I.N. (1989): "Consciousness and Bose-Einstein Condensates", New Ideas  in Psychology 7, 73-83.
PENROSE, R. (1989): The Emperor's New Mind - Concerning Computers, Minds, and the  Laws of Physics, Oxford University Press.
PRIBRAM, K.H. (1991): Brain and Perception - Holonomy and Structure in Figural  Processing, L. Erlbaum, Hillsdale (NJ, EUA).
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o que é filosofia, por um grande autor!


Filosofia
Anthony Quinton
Universidade de Oxford
A maioria das definições de filosofia são razoavelmente controversas, em particular quando são interessantes ou profundas. Esta situação deve-se em parte ao facto de a filosofia ter alterado de forma radical o seu âmbito no decurso da história e de muitas das investigações nela originalmente incluídas terem sido mais tarde excluídas. Uma definição minimalista mas satisfatória é que a filosofia consiste em pensar sobre o pensamento. Isto permite-nos sublinhar o carácter de segunda ordem da disciplina e tratá-la como uma reflexão sobre géneros particulares de pensamento — formação de crenças e de conhecimento — sobre o mundo ou porções significativas do mundo.
Uma definição mais pormenorizada, mas ainda assim incontroversa e abrangente, é que a filosofia consiste em pensar racional e criticamente, de modo mais ou menos sistemático, sobre a natureza do mundo em geral (metafísica ou teoria da existência), da justificação de crenças (epistemologia ou teoria do conhecimento), e da conduta de vida a adoptar (ética ou teoria dos valores). Cada um dos três elementos listados possui uma contraparte não filosófica, da qual se distingue pelo seu modo de proceder explicitamente racional e crítico e pela sua natureza sistemática. Todos nós temos uma concepção geral sobre a natureza do mundo em que vivemos e do lugar que nele ocupamos. A metafísica interroga-se sobre os pressupostos que sustentam acriticamente estas concepções recorrendo a um conjunto organizado de crenças. Ocasionalmente, todos duvidamos e questionamos crenças, não só as nossas como as alheias, e fazemo-lo com mais ou menos sucesso sem possuirmos uma teoria acerca do que fazemos. O objectivo da epistemologia consiste em explicitar as regras que determinam a correcta formação de crenças e argumentar a seu favor. Também orientamos as acções com vista a objectivos e fins que valorizamos. A ética, ou filosofia moral, no sentido mais inclusivo, pretende articular, de uma forma racional e sistemática, as regras ou princípios subjacentes. (Na prática, a ética tem-se restringido aos aspectos morais da conduta e, em geral, tem tendência para ignorar a maioria das acções que praticamos em virtude de critérios de eficiência ou prudência, como se fossem demasiado básicos para justificarem um exame racional.)
As três partes principais da filosofia estão relacionadas de várias formas. Para que possamos orientar racionalmente a conduta é necessária uma concepção global do mundo onde esta se desenvolve e de nós próprios enquanto agentes nele integrados. A metafísica pressupõe a epistemologia para autenticar as formas especiais de raciocínio a que atribui confiança e também para assegurar a solidez das assunções que, em algumas variantes, é levada a fazer acerca da natureza das coisas, por exemplo, que nada provém do nada, que no mundo e na experiência que dele possuímos existe recorrência ou que a mente não se encontra no espaço.
Os primeiros filósofos reconhecidos, os pré-socráticos, eram sobretudo metafísicos preocupados em estabelecer as características essenciais da natureza no seu todo, como na críptica afirmação de Tales: "Tudo é água". Parménides foi o primeiro metafísico cujos argumentos chegaram até nós. Baseado nas razões fornecidas pelos famosos paradoxos de Zenão, concluiu que o mundo estava privado de movimento e ocupava a totalidade do espaço. O cepticismo dos sofistas desafiou as assunções da moral convencional, facto que esteve na origem da ética, notavelmente com Sócrates. Platão e Aristóteles escreveram penetrantemente sobre metafísica e ética; Platão sobre o conhecimento; Aristóteles sobre lógica (dedutiva), a técnica mais rigorosa para justificar crenças; estabeleceu as suas regras de uma forma sistemática e manteve intacta a sua autoridade durante mais de 2000 anos.
Na Idade Média, ao serviço do cristianismo, a filosofia apoiou-se primeiramente na metafísica de Platão, e em seguida na de Aristóteles, com o propósito de defender crenças religiosas. No Renascimento, a liberdade de especulação metafísica ressurgiu; na sua fase tardia, com Bacon e, de um modo mais influente com Descartes e Locke, dirigiu-se para a epistemologia com o objectivo de ratificar e, tanto quanto possível, acomodar a religião e os novos desenvolvimentos das ciências naturais. Hume argumentou contra a possibilidade da sua compatibilização, bem como da metafísica em geral. Na Europa continental, Espinosa e Leibniz praticaram uma metafísica dedutiva ao estilo de Parménides com resultados comparativamente surpreendentes. Kant, formado nesta tradição, afastou-se dela na sequência da leitura de Hume, rejeitou a metafísica nas suas variantes tradicionais e atribuiu a ordem do mundo publicamente observável ao trabalho formativo da mente na experiência. Os seus herdeiros alemães, tirando partido de algumas inconsistências de Kant, retomaram a metafísica nos moldes pomposos tradicionais. Em Inglaterra, o empirismo de Locke e Hume prevaleceu, e a epistemologia manter-se-ia como disciplina filosófica central até meados deste século.
A metafísica dispõe de meios diversos para lidar com um tópico que, apesar de já formulado, de modo algum é claro: a natureza geral do mundo. O primeiro consiste em recorrer a demonstrações puramente racionais. Alcançamos, então, conclusões admiráveis baseadas no facto de a sua negação implicar uma auto-contradição. Um exemplo notável é a demonstração ontológica da existência de Deus. Deus é definido como perfeito. Um deus que existe é mais perfeito que qualquer outra coisa que não exista. Portanto, Deus existe necessariamente. Adoptando um estilo semelhante, Leibniz demonstrou que a realidade, na sua constituição última, é mental; Bradley descobriu contradições escondidas no repertório de noções fundamentais do senso comum e da ciência (relação, espaço, tempo, pluralidade, o eu, e por aí adiante), e concluiu que a realidade é uma entidade única, indivisível no tecido da experiência, uma unidade espiritual que absorve a personalidade individual e a natureza.
O segundo procedimento metafísico consiste em partir da "aparência" (da superfície perceptível do mundo), e derivar conclusões a respeito da realidade última que transcende a aparência. Os argumentos que defendem a existência de Deus com base na necessidade de uma primeira causa ou nas marcas de um desígnio inteligente que descobrimos no mundo da percepção, são exemplos típicos neste domínio. Mais importante ainda para a história da filosofia é a teoria das Formas ou universais objectivos de Platão, segundo a qual estes se encontram não no espaço e no tempo mas num mundo próprio, que Platão utiliza para explicar o reconhecimento de propriedades recorrentes no fluxo contínuo das aparências e ainda para servirem de objectos das asserções eternamente verdadeiras do conhecimento matemático.
Hume atacou a metafísica demonstrativa em termos epistemológicos. Defendeu que os argumentos puramente racionais apenas permitem estabelecer as verdades formais da lógica e da matemática. A negação de um enunciado autocontraditório não é uma verdade factual substancial, mas algo meramente convencional que reflecte o modo como usamos as palavras. Kant combateu a metafísica transcendente, argumentando que as noções de substância e causa apenas produzem conhecimento se forem aplicadas à matéria bruta fornecida pelos sentidos, e não se forem utilizadas para lá dos limites da experiência. Os positivistas lógicos atacaram a metafísica transcendente de forma ainda mais veemente, baseados no princípio de verificabilidade, defendendo que as suas afirmações não têm sentido visto não serem verificáveis na experiência.
Kant opôs-se também a um tipo de metafísica caracterizado não tanto por ir além do mundo das aparências como pelas extrapolações em direcção ao infinito que construiu a partir delas, por exemplo, as teses de que o mundo é infinitamente grande, que é eterno, composto por partes infinitesimais, e por aí adiante. Kant formou pares de asserções deste género com as suas negações e argumentou, num aparente desafio à lógica, que ambos os membros de cada par são autocontraditórios. Este tipo de metafísica, que se ocupa do quantitativamente inacessível (e não com o qualitativamente inacessível), está aberta às mesmas objecções.
As teorias sobre o que foi designado por "categorias do ser" encontram-se entre as sobreviventes do longo combate que opôs a metafísica aos seus detractores. O dualismo psicofísico, argutamente tratado em Descartes, mas já defendido antes e também depois, é talvez o caso mais familiar. Esta forma de dualismo tem raízes epistemológicas. Uma é a distinção entre dois tipos de experiência: as sensações e a introspecção. Outra é a alegada infalibilidade das crenças acerca de conteúdos mentais em contraste com a falibilidade das crenças sobre o mundo material objectivo. Os materialistas, como Hobbes, argumentaram que a actividade mental é corpórea, ainda que apenas numa pequena escala. Os idealistas como Berkeley (e, de certo modo, os fenomenistas como Mill) defenderam que os corpos materiais são complexos de sensações, quer efectivas, quer existentes na mente de Deus ou hipotéticas.
O domínio platónico das ideias alberga um alegada terceira categoria, a das entidades abstractas, por exemplo, propriedades, relações, classes, números e proposições. Os valores foram aí incluídos de maneira a providenciar algo acerca do qual os juízos de valor sejam verdadeiros.
O monismo pode ser nem mental nem físico, mas neutral. Russell, William James, Mach e, até certo ponto, Hume, pensavam que os corpos e as mentes eram formados pelo mesmo tipo de sensações, possíveis e actuais, tal como as imagens que as copiam. Estas sensações combinam-se para constituir os corpos; as sensações e as imagens constituem as mentes.
Além dos tipos de metafísica consideradas até ao momento, cujo objectivo é construir uma concepção do mundo como um todo, há também uma metafísica de âmbito mais restrito que procura examinar a detalhada estrutura do mundo: os indivíduos, as suas propriedades, as relações que mantêm entre si, os acontecimentos que preenchem a sua história – a mudança, portanto – e também os acontecimentos que constituem as partes mais desinteressantes e as mais férteis dessa história; o facto de os indivíduos possuírem propriedades, e por aí adiante. A doutrina de Aristóteles transformou estes tópicos num tema de investigação organizada (ainda que as suas categorias fossem bastante diferentes das mencionadas atrás). Em certa medida, foram absorvidos pela lógica filosófica uma vez que esses aspectos mais subtis da estrutura do mundo correspondem às características formais da linguagem (do pensamento e do discurso), assumidas como distinções básicas da lógica formal.
A questão fundamental da epistemologia, mas talvez não a mais interessante, é a definição de conhecimento. Platão colocou-a no Teeteto e concluiu que o conhecimento é algo mais que crença verdadeira, ainda que a inclua. A ideia de que a justificação constitui o elemento remanescente enfrenta dificuldades sérias excepto, como muitos sustentam, se a regressão ao infinito a que parece dar origem puder ser evitada defendendo, por exemplo, que algumas crenças não são justificadas por outras crenças, mas pela experiência. Muitos filósofos consideram, no entanto, que este problema tem um interesse reduzido uma vez que o próprio conhecimento tem um interesse reduzido. Tudo quanto importa é a crença racional justificada. Contudo, foi também sugerido de forma persuasiva que o elemento em falta na definição não deverá ser acidental ou que deverá possuir como causa o facto que o torna verdadeiro.
Quase toda a epistemologia envolve duas distinções amplas: a primeira entre o que Leibniz chamou "verdades da razão" e "verdades de facto", a segunda entre o que é conhecido directa ou imediatamente e o que é conhecido por inferência. As verdades da razão são verdades necessárias que podem ser descobertas a priori, isto é, sem a dependência dos sentidos e apenas pelo pensamento. As verdades de facto são contingentes, baseando-se a sua justificação na experiência. As duas distinções sobrepõem-se. Algumas verdades da razão devem ser imediatamente conhecidas para que as restantes possam ser inferidas. As primeiras são consideradas axiomas ou princípios da lógica e da matemática. A perspectiva convencional acerca de verdades de facto não imediatas sustenta que estas são realmente inferidas, mas não com base na lógica dedutiva. Neste caso é necessária a indução, um processo que consiste em derivar generalizações irrestritas com base num número limitado de instâncias. Peirce e, ainda com maior veemência, Popper, negaram ou marginalizaram a indução. Deste ponto de vista, os enunciados gerais são propostos como hipóteses dignas de serem investigadas e, em seguida, examinam-se as consequências deles deduzidas; são rejeitados caso estas se revelem falsas e preservados, com crescente confiança, quanto maior o número de testes a que sobrevivam. Esta concepção está mais próxima da prática científica que a teoria convencional da indução mas, aparentemente, permite-lhe entrar ainda pela porta do fundo.
Leibniz pensava que as verdades da razão decorrem do princípio de contradição; no entanto, não avançou o suficiente para concluir, como Hume e a maioria dos empiristas subsequentes, que por essa razão são analíticas, no sentido de serem meramente verbais e de se limitarem a reiterar no que afirmam algo já antes assumido. Kant considerou que o principal problema da filosofia consistia em determinar se existem, e de que modo, crenças em simultâneo sintéticas, com conteúdo substancial e a priori, que o pensamento fosse, por si só, capaz de descobrir. Concluiu que estas crenças existem: são as crenças da aritmética e da geometria, ou os "pressupostos das ciências naturais", que afirmam a existência de uma quantidade permanente de matéria na natureza e que todos os acontecimentos têm uma causa. Foi ainda mais longe e atribuiu a verdade necessária destas crenças substanciais ao modo como a mente impõe a ordem no caos da experiência a que está submetida. Mas não foram muitos os que o seguiram. Mill sustentou que as verdades matemáticas são na realidade empíricas; Herbert Spencer que as verdades necessárias não vão além de crenças bem estabelecidas que herdamos dos nossos antepassados. Recentemente, Quine defendeu que não existe uma diferença de género entre verdades da razão e verdades de facto, mas apenas no grau de determinação com que aceitamos abandoná-las perante dados recalcitrantes.
«»A distinção entre conhecimento directo e conhecimento por inferência foi desafiada em diferentes momentos, incluindo na actualidade, por filósofos que não encontraram saída para o labirinto das crenças. Os defensores da teoria coerentista do conhecimento seguiram as pisadas dos idealistas hegelianos e dos positivista vienenses (até Tarski os ter libertado do labirinto). Parte das razões que sustentam esta distinção provém de um antigo princípio segundo o qual a nossa percepção dos objectos materiais externos não é directa devido à sua característica falibilidade, como revela o apreço que por vezes exibimos por algumas ilusões, devendo, portanto, ser inferida com base no conhecimento por hipótese infalível que possuímos das nossas impressões sensoriais. Mas, serão estas inferências válidas ou, no mínimo, defensáveis? Caso o não sejam, deveríamos suspender cepticamente as nossas crenças a respeito do mundo exterior? E, em caso de resposta afirmativa, qual o género de inferências que temos em vista: para a mesma categoria de coisas, impressões possíveis e actuais, ou para algo diferente, que transcende a experiência, nomeadamente a matéria? O padrão associado a este problema, tal como as várias modalidades de soluções possíveis que lhe correspondem, foram considerados recorrentes num grande número de casos. Por exemplo, os indícios que possuímos para sustentar crenças sobre o passado encontram-se no presente, em vestígios e memórias; mas, de que modo ultrapassar o abismo que dele nos separa, se é que isto é possível? As crenças acerca das outras mentes são baseadas no comportamento dos corpos que observamos e naquilo que nos dizem. Uma solução até agora não mencionada consiste em negar que estejamos confinados ao tipo de indícios especificados. Isto parece bastante atraente no caso da percepção uma vez que implica que percepcionamos os objectos materiais directamente, ainda que não de modo infalível, e no caso das crenças sobre o passado, que as nossas memórias constituem realmente essas crenças, não sendo, portanto, apenas um indício em que se sustentam; no caso das mentes alheias, contudo, algum tipo de telepatia seria indispensável para o efeito. A importância central destes três géneros de crenças dificilmente exige ser sublinhado, não apenas para a ciência, a história ou a psicologia, como para a nossa vida cognitiva considerada como um todo.
Uma característica curiosa acerca da epistemologia é a reduzida atenção prestada à fonte da grande maioria das nossas crenças, nomeadamente, o testemunho alheio: pais, professores, manuais didácticos, enciclopédias. Há aqui um problema interessante. Se dependemos deles quanto aos princípios que utilizamos para testar o carácter fidedigno do que nos dizem, como poderemos alguma vez alcançar uma verdadeira autonomia cognitiva e intelectual?
A lógica, que, como foi dito atrás, constitui o mais poderoso e coercivo instrumento de justificação de crenças, nunca foi considerada parte da epistemologia. A organização sistemática de que foi alvo teve lugar ainda antes de a epistemologia ser identificada como uma disciplina filosófica por direito próprio. Começou, e em parte permaneceu, como um corpo ordenado de regras de inferência aplicáveis a todos os géneros de pensamento e de discurso. Desde Aristóteles até meados do século XIX manteve-se em larga medida adormecida. Desde então, sofreu um amplo desenvolvimento e incluiu a lógica aristotélica com algumas alterações, tornando-se numa certa perspectiva um ramo da matemática. Os seus elementos foram desde sempre considerados um preâmbulo ao estudo da filosofia, algo que ainda hoje se verifica. Não constitui exactamente uma parte da filosofia, ainda que a reflexão crítica sobre as suas assunções, designada por lógica filosófica, o seja de modo inquestionável.
Há um número bastante vasto e, de facto, indeterminado, de disciplinas filosóficas especializadas; filosofias da mente, linguagem, matemática, das ciências (da natureza e sociais), da história, religião, direito, educação, e até do desporto e do sexo. Sempre que um campo de investigação particular, como é caso da ciência e da história, tem em vista o conhecimento, a filosofia correspondente é de natureza epistemológica. A metafísica da natureza é uma ideia destinada a deixar de fora os cientistas, ainda que o problema da realidade de certas entidades teóricas como as partículas elementares possa ser incluído nela. A metafísica ou filosofia especulativa da história, que se reduz à elaboração de esquemas e padrões gerais (cíclicos ou progressivos) da totalidade dos acontecimentos históricos é considerada com suspeição. O fundamento racional para esta suspeição é um tópico que pertence à crítica e epistemologia da história.
A filosofia da mente, tal como actualmente é praticada, teve início com o problema epistemológico que consiste em determinar como é possível saber o que se passa nas mentes alheias. Transformou-se, contudo, em metafísica. O velho problema da identidade pessoal pode ser colocado de duas maneiras: "Como sabemos que uma pessoa actualmente existente é a mesma pessoa que existiu num momento anterior?" ou "O que significa para uma pessoa actualmente existente ser idêntica à pessoa que existiu antes?". Se o problema da identidade pessoal não é simplesmente irresolúvel, ambas as perguntas devem receber a mesma resposta.
Considera-se frequentemente que a filosofia da ciência envolve tópicos importantes para o pensamento pré-científico. Um deles refere-se à natureza da causalidade e ao modo de distinguir uma conexão entre acontecimentos determinada por uma lei de uma simples concomitância acidental. Outro tópico é o da justificação da indução e da interpretação de probabilidades, ou géneros de probabilidade, que a indução supostamente confere às suas conclusões. As relações causais, as crenças de âmbito geral e aquelas que consideramos não serem meramente prováveis, são características indispensáveis do pensamento típico do senso- comum.
A terceira e última grande subdivisão da filosofia é a ética, ou teoria dos valores; o seu objectivo consiste no exame crítico e racional do pensamento acerca do modo como nos conduzimos na vida. A acção, em contraste com o comportamento, é entendida como o produto de uma escolha; a comparação entre diversas alternativas é empreendida à luz do seu carácter desejável, das suas consequências ou da possibilidade ou facilidade de as efectuar. Na acção encontram-se, assim, envolvidos dois tipos de crenças: crenças factuais acerca do que está em causa ao agir de determinada maneira e quais os seus resultados, e crenças a respeito do valor desses resultados ou ausência de valor do que é necessário fazer para os assegurar.
De facto, na ética posterior aos gregos, o tipo de acção que monopolizou a atenção foi a acção moral estritamente concebida. Eis, provavelmente, um resultado do entusiasmo religioso. O cristianismo iniciou-se como um religião milenarista, indiferente aos assuntos mundanos e preocupada com a salvação, em parte porque estava convencido da falta de valor do mundo e da carne mas, principalmente, devido à crença no fim do mundo. Qualquer que seja a causa desta concepção estrita, ela provocou um efeito de distorção. Em princípio, a ética deveria interessar-se pelos diferentes géneros de conduta deliberada e reflectida: a conduta prudencial e de interesse próprio com vista, respectivamente, à mínima perda e ao ganho máximo para o agente, a conduta técnica eficiente, a conduta económica, a conduta saudável, etc. O bem moral e a rectidão são apenas tipos particulares de rectidão. A lógica e a epistemologia, na medida em que se ocupam em distinguir o certo do errado no plano do raciocínio, podem ser descritas, não por liberdade metafórica, como éticas da inferência e da crença.
A influência da religião na moral fez esta última ser considerada os mandamentos de Deus à humanidade. Dado que esta situação conduziu a problemas de autentificação e de interpretação, a voz de Deus internalizou-se, quer como uma espécie de sentido moral sob cuja influência a qualidade moral das acções e o carácter do agente é apreendido, quer como razão moral manifesta na apreensão da necessidade auto-evidente dos princípios morais. São duas as assunções que podemos questionar a propósito destes tipos de intuicionismo. A primeira é a de que as características morais são sui generis, sem relação lógica com as características naturais ou percepcionáveis dos agentes e das suas acções. A segunda é a de que as acções, ou certos tipos de acção, estão intrinsecamente certas ou erradas, quaisquer que sejam as suas consequências, reais ou esperadas. Estas características, se realmente distintivas da moralidade, torná-la-iam diferente dos restantes modos de acção.
Os utilitaristas rejeitam ambas as assunções. Derivam a rectidão ou a não rectidão das acções da bondade ou malignidade das suas consequências e, de forma plausível, das consequências que é razoável para o agente esperar, de preferência às consequências de facto resultantes. Em segundo lugar, consideram que o bem coincide com a felicidade e o prazer ou, mais exactamente, que reside na felicidade geral, na felicidade do maior número de indivíduos. Formulada negativamente, a doutrina utilitarista coincide com o sentimento moral irreflectido: um acção é má se implica o prejuízo de outros e é permissível caso esse prejuízo não se verifique; moralmente, uma acção merece ser creditada se alivia ou previne o sofrimento alheio.
Apesar das diferenças que os separam, intuicionistas e utilitaristas estão de acordo quanto à existência de verdades morais objectivas. A magnitude e intensidade das disputas morais fortalece o cepticismo, segundo o qual os juízos morais são apenas manifestações dos nossos gostos e repulsas e as disputas morais o resultado da colisão de sentimentos que não podem ser resolvidas através de meios racionais. A questão fundamental em ética, concebida simplesmente como filosofia moral, é a de saber se as nossas convicções morais possuem validade objectiva e, em caso afirmativo, de que tipo. Serão, como pretendem os intuicionistas, convicções de um tipo especial, ou mantêm ligações lógicas com o conjunto das nossas crenças? Será que as propriedades morais são intrínsecas à acção ou apenas dependem das suas consequências? Em que consiste o bem e a virtude moral? Será uma disposição para praticar acções rectas ou, de forma mais estrita, a disposição para praticar acções rectas porque são rectas? Em que condições um agente merece ser censurado (ou elogiado) em consequência de acções praticadas? Será que a responsabilidade pressupõe a liberdade da vontade, no sentido em que as que as escolhas livres não são causalmente influenciadas?
Outras duas formas estabelecidas da teoria dos valores são a filosofia política e a estética. A filosofia política é uma extensão da ética para o domínio das instituições sociais e, tal como a ética em geral, parece excessivamente moralizada. O problema fundamental da filosofia política é a base da obrigação dos cidadãos em obedecer ao estado e às suas leis e, visto do outro ângulo, o do estado em compelir os cidadãos a obedecer-lhe. (Seria interessante investigar em que consiste o que torna mais razoável para os cidadãos obedecerem.) Será que a obrigação de obedecer depende do conteúdo das leis ou da forma como o estado é formado e mantido? Será que os seres humanos possuem direitos que limitam a esfera de actuação do estado?
O valor estético é reconhecido como independente dos valores morais, apesar da ocorrência de elementos morais na crítica – por vezes relevantemente, outras de forma intrometida. A palavra "beleza" não o indica satisfatoriamente. Outras línguas conseguem fazer melhor. "Beau" e "schön" significam a propriedade dos objectos artísticos ou naturais que merecem ser contemplados por direito próprio, independentemente de considerações a respeito da sua eventual utilidade ou da informação que podemos obter pelo facto de os estudarmos.
As partes estabelecidas da filosofia foram já mencionadas, mas não existem limites evidentes para o seu campo de aplicação. Sempre que nos deparamos com uma ideia cujo significado é de algum modo indeterminado ou controverso, se os enunciados onde ocorre parecem dificilmente sustentáveis ou mantêm com outras crenças comparativamente mais claras relações lógicas obscuras, deparamo-nos ainda com uma oportunidade para reflectir filosoficamente.
Anthony Quinton
Universidade de Oxford
Tradução de Paulo Ruas
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